domingo, 3 de outubro de 2010

Mensagem Mensal: Outubro de 2010

Dificilmente não poderíamos deixar de associar o mês Outubro de 2010 ao lançamento e apresentação de mais medidas de austeridade para a economia portuguesa. Em primeiro lugar, portanto, ter-se-á de realizar a contextualização do surgimento destas mesmas medidas políticas. Neste campo, inevitavelmente, tais medidas surgiram por variadíssimas razões, de entre as quais devo destacar o facto de Portugal, comparativamente à economia grega, espanhola e irlandesa, ser a única economia em que não conseguiu reverter o fluxo ascendente da despesa pública. Inclusivamente a economia grega, com problemas de financiamento internacional bastante mais sérios que Portugal, conseguiu apresentar um inverter de tendência quanto à despesa pública e, por conseguinte, face à condução da política orçamental. Isto, durante as últimas semanas, originou consequências e reacções nos mercados internacionais, nomeadamente no sentido da dívida soberana nacional estar a ser negociada com juros a rondarem os 6,415%, quando na verdade, no início do ano, estes mesmos juros eram de somente 4%, sensivelmente. Por outro lado, durante os últimos dias de Setembro, a comunicação social, bem como os opinion makers da nossa sociedade, vieram alertar para o facto de só os juros da dívida pública nacional representarem, para o ano seguinte, o montante equivalente ao que seria destinado para rubricas orçamentais como a despesa gasta para a educação ou para o sistema nacional de saúde. Repita-se, só os juros! Num terceiro plano, igualmente importante, era perfeitamente previsível que as grandiosas obras públicas viessem a ser excluídas do investimento público nacional, pelo menos nos próximos anos. Neste sentido, surgiu o alargamento das anteriores medidas orçamentais, e desta vez com algumas alterações, ainda mais significativas, no sistema fiscal nacional. Efectivamente, era expectável que fossem tomadas medidas em dois planos: por um lado, e em primeiro lugar, uma redução da despesa pública (seguindo aquilo que até a Espanha e Grécia conseguiram fazer) e um aumento do arrecadamento de receitas públicas, mais precisamente através da política fiscal. Aparentemente, verdade seja dita, os mercados internacionais reagiram a tais medidas, pelo menos ao baixarem os montantes negociados para finalidade de juros das obrigações do tesouro de Portugal. Na comunicação social além fronteiras, por exemplo, rapidamente se noticiou que o FMI estaria agora mais longe de visitar Lisboa. Porém, infelizmente, e tal como o FMI já veio anunciar, está em curso um de três cenários: o crescimento, a estabilidade ou alguma estabilidade com um crescimento próximo da nulidade. Neste sentido, e numa primeira análise ao PEC e às medidas agora lançadas, o governo português conta apostar na última estratégia, por mim indicada. Assim, com o pé atrás relativamente às grandiosas obras públicas (o que já seria de prever, felizmente), Teixeira dos Santos procurará assegurar a estabilidade, sempre com um discurso no sentido de promover o crescimento e afastando-se dos tempos, nada longínquos, da crise e da recessão à escala mundial. Muito provavelmente, este último cenário será aquele que, também, não será o mais indicado para um combate sério e directo à redução da despesa pública. Por outras palavras, igualmente importantes, esta não será a estratégia para ir de encontro ao crescimento das outras economias da Zona Euro, sendo que Portugal necessitaria, por questões de convergência, de crescer ainda mais que essas mesmas economias.

Sem comentários:

Enviar um comentário