segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mensagem Mensal: Novembro de 2010

No passado dia 29 de Outubro de 2010, pelas 23 horas e 19 minutos (segundo fez saber o próprio Eduardo Catroga), deu-se o entendimento entre o PS e o PSD para a aprovação do orçamento de estado para o ano de 2011. Note-se que, antes mesmo da aprovação deste em sede da Assembleia da República, já a pressão de Bruxelas e dos mercados fariam sentir o imperativo da aprovação deste, independentemente do seu conteúdo interno e, portanto, das suas respectivas consequências para Portugal e para os portugueses. Assim sendo, e como foi possível de se verificar nos últimos dias, o trunfo do FMI foi utilizado para que, efectivamente, o orçamento de estado fosse viabilizado pelos dois partidos em questão. Mais uma vez, a vinda do Fundo Monetário Internacional foi chamada para a conversa entre o discurso do orçamento e os portugueses, especialmente no sentido de que estes últimos ficassem a saber que, em caso de reprovação do orçamento, o FMI teria voo marcado com destino a Portugal. Ora, não há muito tempo atrás, o ministro Teixeira dos Santos (responsável pelas finanças nacionais) não acreditava na vinda do FMI para Portugal, apesar do contexto orçamental muito grave que já nessa altura Portugal se encontrava. Apesar do aumento dos juros da dívida pública serem bastante penalizadores para uma economia já fragilizada, como é a economia nacional, isso não explica a reviravolta na argumentação do ministro Teixeira dos Santos, que em nada sairia beneficiado num cenário hipotético de não aprovação do orçamento e de chegada do FMI a Portugal. Nem esse cenário se levantaria, pelo menos sem o rebentar de uma crise política. Voltando de novo à questão interna no orçamento – aprovado pelo bloco central do PS e do PSD – este, mais uma vez, volta a ser um roubo aos cofres dos contribuintes portugueses. Apesar de algumas exigências sociais-democratas quanto aos produtos sujeitos à taxa máxima de IVA, por exemplo, o que é certo é que no global, tal como já acontecera no passado, os principais sacrificados serão aqueles que compõem a (ainda viva) classe média. Apesar de uma redução significativa na despesa pública, nunca é demais recordar que, a necessidade desta ser agora diminuída, se deve ao facto de não ter sido feita anteriormente. Um exemplo paradigmático disto mesmo prende-se, por exemplo, com o caso das fusões entre algumas das entidades públicas, que para as quais quase ninguém saberia diferenciá-las umas das outras. Ora, esta “multiplicação” de entidades estatais, originou precisamente a engorda da máquina do estado português. As empresas públicas, são outro exemplo disso, tal como, também, as empresas criadas num âmbito municipal. Ao longo de várias décadas (principalmente nos últimos anos) foi isto que aconteceu. Hoje, portanto, rebentou a “bolha” de empregos e de empresas criadas pelo estado para o próprio estado. E rebentou tarde demais. É esta diminuição da despesa pública que, aliada ao aumento previsto das receitas, que constitui uma consolidação orçamental, em que é expectável que já no próximo ano se atinja os 4,6% de défice orçamental. A título individual, e atendendo à magnitude das próprias medidas em causa, acredito que essa meta orçamental seja uma realidade, já daqui a um ano, no final de 2011. Mais, acredito plenamente que tais medidas já foram lançadas em sede de orçamento com um diferencial de margem de manobra para alteração do cenário macroeconómico, que tal como a maioria dos analistas internacionais, duvido que seja aquele que foi apresentado no orçamento do bloco central. Porém, isto que aqui disse não vai contra aquilo que acredito que seja o futuro da arrecadação de impostos em Portugal, isto é, uma arrecadação cada vez menor, à medida que aumentam as taxas de imposto. Acredito, portanto, que Portugal vai experimentar, brevemente, aquilo que os países nórdicos experimentaram nas décadas de 80, com as elevadas taxas de imposto sobre os contribuintes e que resultaram em receitas cada vez menores. A par disso, continuará a haver uma má gestão do estado social, principalmente no que diz respeito à rubrica das transferências do estado, incluindo as transferências sociais. Deste modo, trocando somente os argumentos usados para com os cidadãos e os impostos cada vez mais altos que estes pagam para o estado (e com serviços públicos cada vez de menor qualidade), pouco mudará em termos da política orçamental, até porque a tendência é para uma cada vez menor margem, também, para a condução da política orçamental, sendo ainda de salientar que em termos monetários e cambiais já nada poderemos fazer.

domingo, 31 de outubro de 2010

Documentário Inside Job

Uma das questões que me deixa especialmente apreensivo relativamente ao futuro da economia mundial prende-se, essencialmente, com a lição mal aprendida face aos erros do passado. Esses erros começaram muito antes de 2008, antes do reconhecimento “oficial” da crise internacional, a de maior magnitude desde a Grande Depressão. Digo “oficial”, pois para qualquer Economista, minimamente consciente do que se vinha passando nos mercados financeiros, imobiliários e monetários, tais consequências na verdade não se trataram de uma surpresa, mas sim de uma confirmação. Paul Krugman, entre outros economistas, foi uma das vozes mais activas neste sentido.
Este discurso, que aqui faço, tem uma razão de ser. No passado dia 29, durante a visualização do preview do filme/documentário “Inside Job” (a que tive oportunidade de assistir junto de alguns colegas e Docentes do Mestrado de Finanças do ISEG, a convite do Professor João Duque) voltei a recordar e a relembrar aquilo que ninguém deverá esquecer. Note-se que estamos a falar da segunda maior crise de sempre de toda a história, a primeira após a Grade Depressão dos anos 30.
Posteriormente a um horizonte temporal da história económica norte-americana plenamente marcada por um próspero crescimento económico (em muito justificado, segundo inclusivamente economistas americanos, pelas mudanças tecnológicas que vieram aumentar significativamente a produtividade das empresas), deu-se um período de uma forte desregulamentação do sector financeiro. Viria a ser essa forte desregulamentação que traria o início de um possível fim do sistema capitalista, como hoje ainda o conhecemos. Digo hoje, pois o sistema não colapsou devido a uma intervenção à escala mundial, que custou 20 triliões de dólares só na economia americana.
Com este processo de desregulamentação do sector financeiro, em muito ajudado pelo lobby (perfeitamente permitido e legal nos Estados Unidos) e por decisões políticas, deu-se aquilo que se viria a chamar uma “concentração” das grandes instituições norte-americanas, sendo que estas quatro ou cinco instituições viriam a representar a maioria das transacções no próprio sistema. Além do mais, seguradoras como a própria AIG estariam, mais tarde, envolvidas nestes esquemas de engenharia financeira, que por conseguinte penalizaram, numa primeira fase, os americanos e a economia dos Estados Unidos e, numa segunda fase, toda a economia mundial. De facto, constatou-se, mais uma vez, que o ditado popular, entre os economistas, tem toda a razão de ser: quando os Estados Unidos espirram, todo o mundo se constipa. Este foi, portanto, o efeito de contágio à escala planetária.
Este “pequeno” grupo de instituições financeiras (onde se poderá incluir a categoria da banca de investimento, a que Paul Krugman, por exemplo, viria a denominar como o sector sombra), era e é dominado por um conjunto de executivos, CEO´s e Chairman´s que, com o passar da complexidade dos próprios sistemas e com o passar do tempo, trocariam de posições entre si, nos diversos bancos, seguradoras ou fundos de investimento. Inclusivamente, este “dançar de posições de topo” viria a chegar aos cargos máximos de acessória à Casa Branca e à própria Reserva Federal norte-americana.
Alan Greenspan, adorado por muitos e criticado por aqueles que com coragem para tal assim o fizeram, foi o presidente que conseguiu um maior número de anos à frente do FED. Mais do que isso, apesar de ter presidido ao maior número de anos sem uma única recessão económica, este nada fez em matéria de regulamentação dos mercados financeiros, até porque, segundo o próprio, nada faria sentir tal necessidade. Com o rebentar da crise, o mesmo Alan Greenspan apenas confessou haver uma possibilidade de haver uma certa “exuberância irracional” nos mercados americanos.

Estes são alguns dos argumentos para visualizar o documentário “inside Job”!

A não perder!

domingo, 17 de outubro de 2010

Livro do mês de Outubro

Este mês optei por escolher um Livro do Professor Medina Carreira. Não o fiz de forma a parecer só mais um livro do mês, nem o fiz de forma ingénua. Tomei esta decisão pois, embora sabendo de que nem todos os leitores apreciam o seu espírito e filosofia popular, principalmente nos programas onde intervém, aprecio a sua honestidade intelectual.

Por outro lado, parece-me ser o mês indicado para tomar a decisão de incluir uma obra sua na secção "livros do mês". A honestidade que reconheço ao Professor Medina Carreira é o contraste absoluto face aos actuais políticos do sistema, quer sejam eles da extrema-esquerda terrorista e Trotskista, quer sejam de uma direita envergonhada e medíocre. Estes, ao contrário do Professor Medina Carreira, regem-se por uma política escondida em números manipulados, revelando, portanto, uma mediocridade inaceitável para uma nação que foi uma das mais prósperas da Europa.

Mais, o argumento em torno da "democracia" (desta democracia que presenciamos), bem como das magníficas virtudes do bloco central, são as armas para a discórdia e argumentação anti-populista em torno das palavras, sábias, do Professor Medina Carreira.

Não tenciono voltar a explicar e justificar a opção pessoal (pelo menos desta forma, que hoje o fiz) sempre que lanço um livro mensal, porém entendi que o deveria fazer e justificar, pois estou certo que 2011 será um ano (mais um!) de divergência face ao crescimento da economia da Zona Euro e da economia norte-americana.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Site pessoal

Por lapso meu, e por alguma manifesta falta de tempo, ainda não tive oportunidade de publicar aqui, no blogue, o meu site pessoal.

Aqui fica: http://www.mariofernandes.net

Manuais em português

Não raras vezes nos deparamos com livros técnicos, de especificidade considerável, somente na língua inglesa. Na verdade, este cenário parece estar a mudar. Autores portugueses, a escreverem em português, parece ser uma realidade claramente ascendente, o que prova o inverter de cenários. Ainda neste campo,mais precisamente no campo das ciências económicas,têm surgido diversos manuais, de qualidade altamente considerável, que têm colmatado, portanto, as lacunas preenchidas pelos manuais escritos em inglês.

Este manual de "Política Monetária e Mercados Financeiros", do Professor Emanuel Leão e do Professor Sérgio Lagoa (ambos do Departamento de Economia do ISCTE) é um excelente exemplo disso.

(ver aqui)

domingo, 3 de outubro de 2010

Mensagem Mensal: Outubro de 2010

Dificilmente não poderíamos deixar de associar o mês Outubro de 2010 ao lançamento e apresentação de mais medidas de austeridade para a economia portuguesa. Em primeiro lugar, portanto, ter-se-á de realizar a contextualização do surgimento destas mesmas medidas políticas. Neste campo, inevitavelmente, tais medidas surgiram por variadíssimas razões, de entre as quais devo destacar o facto de Portugal, comparativamente à economia grega, espanhola e irlandesa, ser a única economia em que não conseguiu reverter o fluxo ascendente da despesa pública. Inclusivamente a economia grega, com problemas de financiamento internacional bastante mais sérios que Portugal, conseguiu apresentar um inverter de tendência quanto à despesa pública e, por conseguinte, face à condução da política orçamental. Isto, durante as últimas semanas, originou consequências e reacções nos mercados internacionais, nomeadamente no sentido da dívida soberana nacional estar a ser negociada com juros a rondarem os 6,415%, quando na verdade, no início do ano, estes mesmos juros eram de somente 4%, sensivelmente. Por outro lado, durante os últimos dias de Setembro, a comunicação social, bem como os opinion makers da nossa sociedade, vieram alertar para o facto de só os juros da dívida pública nacional representarem, para o ano seguinte, o montante equivalente ao que seria destinado para rubricas orçamentais como a despesa gasta para a educação ou para o sistema nacional de saúde. Repita-se, só os juros! Num terceiro plano, igualmente importante, era perfeitamente previsível que as grandiosas obras públicas viessem a ser excluídas do investimento público nacional, pelo menos nos próximos anos. Neste sentido, surgiu o alargamento das anteriores medidas orçamentais, e desta vez com algumas alterações, ainda mais significativas, no sistema fiscal nacional. Efectivamente, era expectável que fossem tomadas medidas em dois planos: por um lado, e em primeiro lugar, uma redução da despesa pública (seguindo aquilo que até a Espanha e Grécia conseguiram fazer) e um aumento do arrecadamento de receitas públicas, mais precisamente através da política fiscal. Aparentemente, verdade seja dita, os mercados internacionais reagiram a tais medidas, pelo menos ao baixarem os montantes negociados para finalidade de juros das obrigações do tesouro de Portugal. Na comunicação social além fronteiras, por exemplo, rapidamente se noticiou que o FMI estaria agora mais longe de visitar Lisboa. Porém, infelizmente, e tal como o FMI já veio anunciar, está em curso um de três cenários: o crescimento, a estabilidade ou alguma estabilidade com um crescimento próximo da nulidade. Neste sentido, e numa primeira análise ao PEC e às medidas agora lançadas, o governo português conta apostar na última estratégia, por mim indicada. Assim, com o pé atrás relativamente às grandiosas obras públicas (o que já seria de prever, felizmente), Teixeira dos Santos procurará assegurar a estabilidade, sempre com um discurso no sentido de promover o crescimento e afastando-se dos tempos, nada longínquos, da crise e da recessão à escala mundial. Muito provavelmente, este último cenário será aquele que, também, não será o mais indicado para um combate sério e directo à redução da despesa pública. Por outras palavras, igualmente importantes, esta não será a estratégia para ir de encontro ao crescimento das outras economias da Zona Euro, sendo que Portugal necessitaria, por questões de convergência, de crescer ainda mais que essas mesmas economias.

Responsabilidade europeia ou da União Europeia?

A responsabilidade da análise e supervisão associada à elaboração dos orçamentos de estado deverá recair para os Estados Membros, única e exclusivamente, ou também para a própria União Europeia? Esta questão ganha especial ênfase aquando do actual cenário macroeconómico grego. Será a Grécia a única culpada nesta altura? A União Europeia não terá, também, culpas no cartório? Evidentemente que sim. O descontrolo das contas públicas gregas, apesar destas muito possivelmente terem sido manipuladas e trabalhadas, é da responsabilidade, em primeiro lugar, dos gregos e, logo de seguida, na União Europeia. Se os mercados estão a ser perfeitamente justos e eficientes em torno da questão da dívida soberana grega, com um risco altamente remunerado, alguém deveria, também, apontar o dedo aos supostos “reguladores”. Na verdade, tal como já tinha acontecido com a Islândia (se bem que de fora do âmbito da UE), ninguém conseguiu apontar, atempadamente, possíveis cenários menos positivos e de contracção e de perigo nas contas públicas. Tal como acontece com a maioria dos programas do FMI, dificilmente esta instituição conseguirá atribuir um desempenho positivo ao governo grego. A quase única excepção aconteceu, curiosamente com a economia Portuguesa, depois do 25 de Abril, em que conseguiu uma avaliação positiva do FMI em quase todos os pontos do programa desta instituição…digo todos, pois não conseguiu num ponto: as finanças públicas!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Livro do mês de Setembro


Este mês lanço um livro cujos temas são especialmente caros e importantes para mim, por motivos associados à pesquisa da minha tese de mestrado e de doutoramento. Trata-se, portanto,de uma obra que realiza uma análise muito importante em torno do micro-crédito, tendo como base a questão do combate à pobreza mundial (um dos principais Objectivos de Desenvolvimento do Milénio).

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A manipulação dos estudos para o investimento público: o caso do TGV

Aquando do último programa do plano inclinado, da SIC Notícias, numa intervenção do Professor Doutor João Duque, este indicou uma nota muito importante em torno dos estudos de viabilidade para o projecto de investimento do TGV. Num dos primeiros estudos realizados, o custo de oportunidade de um passageiro era de, sensivelmente, 11 euros. Alguns anos depois, sem que a inflação ou outra qualquer razão aparente pudesse intervir no raciocínio, este mesmo custo de oportunidade, por pessoa e por hora, foi mensurado no estudo de viabilidade económica a uns impressionantes 26 euros. Para um país tão desleixado com a gestão de tempo, e onde é raro haver pessoas pontuais, o custo de oportunidade subiu astronomicamente. Talvez seja a razão pela qual ninguém acredita nos estudos encomendados pelos principais interessados na construção do TGV…e na destruição da sustentabilidade de Portugal!

domingo, 12 de setembro de 2010

Dr. Silva Lopes e o PEC

Artigo sobre Moçambique

Mário Fernandes
Universidade Lusófona *


Moçambique: Crescimento, Inflação e Revolta

A economia de Moçambique é, a par com a economia angolana, um destino de investimento para muitos empresários portugueses. As razões para que isso aconteça são, na verdade, bastante simples e claras. Moçambique goza de uma taxa de crescimento económico absolutamente incomparável face às economias europeias e internacionais. Poucos são os países que, de facto, conseguem obter taxas de crescimento a rondar as duas casas decimais, mais precisamente com taxas de crescimento de 12% em 2003. Nos últimos anos, mesmo em presença de uma desaceleração natural do crescimento da actividade económica, estas taxas têm sido o confirmar de um crescimento que se julga sustentado, sendo que nos últimos anos Moçambique tem crescido a 7% ao ano, sensivelmente, e em 2009, posteriormente à crise internacional de 2008, a economia moçambicana obteve uma evolução positiva de entre 4% a 5%, aproximadamente. Porém, não tem sido o crescimento da actividade económica, empresarial e industrial que tem sido o responsável por uma diminuição drástica nos níveis de desemprego. Muito pelo contrário. A principal questão social, a par com a proliferação da SIDA e da pobreza, é precisamente o desemprego. Esta questão está a ganhar especial ênfase, pois diversos organismos e instituições internacionais apontam para taxas de desemprego a rondar, aproximadamente, os 20%. Infelizmente, os dados do Ministério do Trabalho de Moçambique e do Instituto Nacional de Emprego e de Formação Profissional (INEFP) espelham a grave e séria questão do desemprego oculto, até porque só se encontram registados, nos centros de emprego do INEFP, cerca de 171000 desempregados, número este que não representa a dura realidade do mercado de trabalho moçambicano. Ao contrário do que muitas vezes se pensa, não é só a província de Maputo que goza de um maior foco das graves questões sociais, pelo que a problemática do desemprego é um problema nacional e não regional.

Fonte: INEFP e Ministério do Trabalho de Moçambique, 2008.

Outra questão, igualmente importante, passa por averiguar se, de facto, o crescimento moçambicano será capaz de impulsionar o desenvolvimento económico, social e humano que Moçambique tanto necessita. Dito de outra maneira, igualmente válida, resta saber se o desenvolvimento andará de mãos dadas com o crescimento económico. Um dos aspectos que vinha preocupando o Bando do Moçambique (BdM) era precisamente no sentido de apurar se o crescimento efectivo estaria a exceder o crescimento potencial da economia moçambicana, pois, num cenário macroeconómico desse tipo, a inflação poderia ser um sério problema para a economia moçambicana. Não seria um problema somente dos moçambicanos com menor poder de compra, mas seria sim um problema para todos os agentes e investidores, nacionais ou internacionais. Recorde-se que uma inflação mais elevada e incerta será um sinónimo de incerteza face às decisões de investimento, produção e de consumo dos agentes económicos. O BdM, desde a sua fundação e definição dos seus respectivos targets face aos agregados monetários, tem vindo a ter um cuidado especial no controlo da inflação. Por outro lado, esta inflação que é agora abordada, em torno da revolta social que se faz sentir principalmente em Maputo, resulta do aumento do preço de algumas matérias-primas, mais concretamente do petróleo. Com a escalada do preço dos produtos petrolíferos, as importações moçambicanas correm um risco real de ficarem bastante mais caras, pelo que isso se irá traduzir junto das populações, já de si bastante marcadas por um cenário de pobreza extrema. Para evitar uma proliferação do actual cenário de revolta social de Maputo para o resto das restantes províncias moçambicanas, o BdM, por exemplo, para fazer face ao aumento dos preços dos produtos importados, irá se responsabilizar pela compra de 550 milhões de dólares em produtos petrolíferos. Recorda-se, portanto, que este valor é em muito superior ao valor destes mesmos produtos importados, face ao ano anterior, em que estes custaram aproximadamente cerca de 320 milhões de dólares. A estratégia do BdM passa, assim, por aliviar o sistema financeiro, mais especificamente a banca comercial em Moçambique, para que esta tenha de financiar projectos que devolvam confiança aos investidores, em detrimento de financiarem as escaladas dos preços dos produtos importados. Apesar desta rápida medida, anunciada pelo Banco Central de Moçambique, o desespero das populações com menores rendimentos fez-se sentir de imediato, principalmente em Maputo, até porque a inflação em torno dos produtos primários chegou a atingir os 7%, o que representa uma oscilação bastante penosa para a maioria daqueles que não têm o seu posto de trabalho, nem rendimentos que permitam sobreviver com esta escalada de preços. Para além destas duas questões (em torno da inflação e das consequências sociais), a divisa moçambicana, o metical, encontra-se numa trajectória de depreciação cambial, o que, em conjunto com o aumento do preço dos combustíveis, poderá resultar num agravamento real de maior magnitude. Neste sentido, a palavra-chave, do ponto de vista estrutural, poderá e deverá ser a criação de postos de trabalho, que atribuam, portanto, rendimentos necessários para a aquisição dos bens principais e de uma melhoria na qualidade de vida e do bem-estar social. Nesta matéria, mais uma vez, tal como acontece noutros países menos avançados, a principal barreira prende-se com uma tremenda falta de formação profissional e de baixos índices de escolaridade. Segundo o próprio Ministério do Trabalho de Moçambique, quase cerca de 14% da população não tem qualquer tipo nível de ensino e que 43% somente frequentou o ensino primário de 1º e 2º grau. Estas estatísticas demonstram, portanto, uma das principais razões para o elevado desemprego. A economia moçambicana é, nos dias de hoje, um excelente caso de estudo, na medida em que demonstra, de forma vincada, que o crescimento económico nas últimas décadas não se tem traduzido em desenvolvimento. O próprio conceito de crescimento sustentado também poderá ser enquadrado na economia moçambicana, pois um crescimento superior àquilo que são os fundamentais da economia explicam, de certa forma, o aumento das desigualdades entre o preço dos bens e os rendimentos dos mais pobres, o que é ainda mais grave quando se presencia um cenário de aumento dos produtos petrolíferos. Porém, uma palavra de esperança para Moçambique, que julgo voltar a ganhar, rapidamente, a confiança dos investidores nacionais e estrangeiros.


* Investigador do Observatório Lusófona de Actividades Económicas (OLAE) - Centro de Investigação da Universidade Lusófona

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A crítica de Krugman

Paul Krugman tem tecido fortes críticas a Angela Merkel e aos demais responsáveis pela condução da política económica alemã. Terá razões para tal atitude? Segundo o laureado com o prémio Nobel da economia, em 2008, a economia germânica poderá estar a ser o cancro para a própria Zona Euro. No centro das atenções para Krugman está a condução e formulação de uma política macroeconómica orçamental contraccionista. Para o prémio Nobel este cenário é altamente incomportável, em especial numa situação em que a economia alemã, enquanto maior potência económica da Europa, necessita de afirmar a retoma da sua respectiva actividade económica. O que seria, isso sim, necessário para o ponto de vista do economista norte-americano era a condução de uma política orçamental contrária à actualmente praticada, isto é, uma política que visasse a adopção de medidas que premiassem a continuação do dever do estado alemão em promover um aumento da despesa pública alemã (apesar de em menor escala) para que a retoma fosse, de facto, uma realidade mais palpável. Para o executivo liderado por Merkel, esta posição de Paul Krugman é totalmente contrária à filosofia colocada em prática, quer pelos alemães, quer pelo próprio Banco Central Europeu, especialmente dedicado ao facto de tentar garantir a estabilidade do nível de preços, muitas vezes em detrimento da promoção do crescimento das economias da Zona Euro. Na verdade, Paul Krugman tem a sua razão na filosofia na condução da política monetária por parte do BCE, razão pela qual Krugman não esconde a admiração pelo trabalho do FED, em especial pelo trabalho do seu ex-colega Bem Bernanke, líder actual da Reserva Federal americana. As medidas de austeridade germânicas têm visado uma redução dos gastos do estado e, também, reduções salariais em termos reais. Com tudo isto, os estados-membros da Zona Euro serão obrigados, por questões de competitividade, a seguir as práticas alemãs.

Mensagem Mensal: Setembro de 2010

Mensagem Mensal | Setembro de 2010

O mês de Setembro é, para a maioria das pessoas, o mês de regresso à normalidade, quer relativamente às questões de trabalho, quer, também, pelo regresso aos estudos dos mais novos. No cenário macroeconómico, gostaria de apontar uma mensagem mensal redireccionada em três vertentes, isto é, para a economia nacional, europeia e norte-americana e, finalmente, também, para Moçambique. Face à economia nacional, ontem, dia 8 de Setembro, foram lançados os dados do INE, relativos ao crescimento. Este organismo aponta para um crescimento superior a 1,5% do PIB, relativamente ao trimestre anterior. Trata-se de um crescimento que representa que, até Junho de 2010, a economia nacional, muito provavelmente, terá crescido mais daquilo que seria de esperar pelo formuladores da política macroeconómica nacional. Este mesmo crescimento económico vai ao encontro daquilo que os países da Zona Euro têm vindo a crescer, principalmente devido ao “motor” alemão. Antes de passar para o cenário macroeconómico americano e Europeu, uma pequena nota para o facto deste crescimento, mesmo relativo a um período em que o desemprego sazonal deveria ter pressionado para uma quebra do desemprego total, não ser suficiente para uma inversão total do cenário social, mais precisamente face aos baixos níveis de emprego em Portugal. Será necessário, portanto, políticas macroeconómicas, agora, que visem combater, de uma vez por todas, as questões do desemprego de longa duração e do desemprego estrutural. Por outro lado, convém não cair nos argumentos falaciosos de que os condutores da política económica nacional nada podem fazer, pois efectivamente podem-no. Podem, e devem, apontar para políticas que visem o incentivo à criação de postos de trabalho, principalmente pela via fiscal, tal como já há muito defendo. Passando agora para Moçambique, Setembro mostrou-nos precisamente aquilo que nós, economistas mais cépticos, vinha-mos defendendo. Nas economias menos avançadas, como a moçambicana, o crescimento económico é o motor para o desenvolvimento e, no caso de assim não ser, a teoria económica afirma que, face a um crescimento potencial inferior, apenas gerará pressões inflacionistas. Na verdade, não foi só isto que aconteceu em Moçambique, pois esta economia viu agravada a questão da inflação, principalmente, por via de um agravamento do preço dos combustíveis. Mesmo assim, a título pessoal, aponto a economia moçambicana como uma daquelas que mais crescerá na África Austral e onde os empresários portugueses podem, certamente, investir e internacionalizarem-se. Por fim, acredito vivamente que a Europa está a afastar-se, mais uma vez, do realismo da economia americana. Apesar de, num cenário macroeconómico de muito curto prazo, as estatísticas demonstrarem o contrário, na verdade a economia Europeia está a meter o pé no travão excessivamente cedo, contrariamente ao realismo americano que, por seu turno, continua a apostar no investimento público e no empreendedorismo. A política monetária dos dois bancos centrais (FED e BCE), demonstra essas mesmas diferenças. Espero estar muito enganado face ao destino da União Económica Monetária e, também, da sua divisa, o euro. Aguardaremos, pacientemente, pelos próximos meses.

sábado, 21 de agosto de 2010

Brasil 2022: impossível ou realidade próxima?

O crescimento económico da economia brasileira já é uma realidade, mesmo atendendo à realidade de conjuntura internacional que uma economia com tantas barreiras estruturais apresenta. A questão de fundo, na minha opinião, nem sequer passa por isso. Mais importante de tudo, para os formuladores da política económica brasileira, será estarem atentos à trajectória do desenvolvimento económico, humano e social da nação brasileira. Por muito básica que pareça esta questão, não raras vezes assistimos a várias economias ainda em desenvolvimento não apresentarem políticas que visassem o acompanhamento do desenvolvimento económico, juntamente a par do crescimento da economia brasileira. Basicamente a questão que jamais poderia deixar de lado é a seguinte: o desenvolvimento estará de mãos dadas com o crescimento da economia? Um olhar muito breve para o passado recente, mais precisamente face à última década, diz-nos que ocorreram mudanças positivas nas condições de vida, em geral, dos concidadãos brasileiros. Este olhar para o passado breve deixa qualquer economista e politólogo bastante esperançada para o crescimento económico futuro. Mais uma vez, deixando de lado a minha inexistência de dúvidas quanto ao crescimento de médio longo prazo, até 2022, tenho uma série de outras preocupações secundárias, mas que merecem igual importância. Note-se que as economias, ao longo do seu processo de desenvolvimento, são especialmente atractivas, principalmente se estiverem ainda longe do seu denominado steady-state (estado estacionário). Neste caso, tais tipos de economias são bastante cobiçadas para os investidores internacionais, mais concretamente no sentido de potenciarem lucros de muito curto prazo e de curto prazo. Este aumento da procura por rendibilidades elevadas, nestas economias, levaram ao surgimento do conceito de “economias emergentes”, tal como o economista Paul Krugman já vinha alertando. Os mercados de capitais brasileiros, como o mercado de acções e obrigações, têm sido bastante marcados pela presença de uma predominância de investidores internacionais, que mais uma vez realizam os seus investimentos financeiros em busca de taxas de rendibilidade que jamais conseguiriam nas economias já avançadas ou desenvolvidas. Diversas economias, tal como a economia portuguesa, têm apostado nas empresas brasileiras, em quase todos os sectores. Aliás, o caso da PT e da Telefónica são dois excelentes exemplos, que rapidamente poderão passar para outros investidores internacionais e para outros mercados alvo do Brasil. Por outro lado, o sistema financeiro também terá de se mostrar robusto para acompanhar o crescimento da economia e dos perigos que isso poderá acarretar. As mudanças sociais (como mais empregos e maiores rendimentos salariais) levarão, tal como hoje já vai acontecendo, a profundas mudanças nos hábitos de consumo e investimento, pelo que será expectável uma sociedade de consumo em maior escala. Atendendo a esta linha de raciocínio, rapidamente poderá haver uma corrida aos balcões bancárias, desta vez para a cedência de créditos bancários, quer para o consumo, investimento e habitação. Os responsáveis pela política monetária brasileira terão de estar atentos a tais mudanças económicas e sociais. Resta saber se as políticas de Lula da Silva irão abandonar o panorama político-partidária ou se, pelo contrário, teremos uma nova política económica, que vise a continuação da potencialização do crescimento mas com as devidas cautelas acima indicadas.

Os Estados Unidos e a deflação, parte II

O perigo da economia norte-americana cair numa armadilha da liquidez não é, somente, um perigo americano mas sim global. O efeito de contágio poderá vir a contaminar, novamente, todas as economias mundiais, o que viria a ser um desastre neste momento, de retoma da actividade económica. Aliás, a preocupação do FED é bem pertinente, pois existe um perigo real do FED não poder influenciar a recuperação económica dos Estados Unidos. Num cenário macroeconómico em que uma dada economia entra numa armadilha da liquidez (originado pela deflação), a política monetária – que neste caso é da responsabilidade do FED – deixaria de eficaz, pois o próprio banco central não voltaria a poder influenciar as taxas nominais de juro. Posto isto, a missão de retoma da actividade económica americana teria de recair sobre a política orçamental. Num cenário da armadilha keynesiana (keynes foi o principal investigador deste cenário) o produto somente poderá aumentar por via de um bom velho estímulo keynesiano, isto é, orçamental, o que significaria um aumento drástico da despesa pública. Ora, atendendo ao cenário orçamental americano, uma condução de política orçamental expansionista poderia agravar, de forma bastante significativa, o défice orçamental americano, porém, para a administração Obama essa seria, muito certamente, uma mera questão secundária. Recorde-se que, muito dificilmente, o financiamento seria cortado à economia americana, razão pela qual atribui-se a expressão que compara as obrigações do tesouro americano à água, pois quando o estado americano deixar de garantir o pagamento das suas dívidas, então já nem se poderá contar com o direito ao consumo de tal bem primário. Contudo, toda esta questão em torno da deflação americana poderá nem dar origem ao cenário de armadilha da liquidez. Então, porquê tanto alarmismo em torno da deflação e os seus perigos? Basicamente, a resposta encontra-se em evidências passadas. Nos anos 30, com a chegada da Grande Depressão, a economia americana foi a primeira economia global a sentir os perigos reais das consequências de se cair numa armadilha keynesiana. Posteriormente, já na década de 90, no Japão, a economia nipónica atravessou uma recessão de mais de uma década devido a ter entrado numa espiral negativa que tivera começado com a deflação e terminado com a “liquidity trap”. De facto, um olhar para o passado poderá ser assustador. Bem Bernanke tem todas as condições para evitar a queda da economia americana numa armadilha desta magnitude, contudo, também ele se encontra divido entre a possibilidade de aprofundar a deflação e prejudicar a retoma da economia por via de um aumento elevado e sustentado das taxas de juro de referência do FED. A título pessoal, acredito que a economia americana não irá cair num cenário macroeconómico desta magnitude, tal como o Japão ou a própria América dos anos 30. É necessária uma atitude urgente perante a política monetária do FED, no sentido de antecipar um problema bastante grave, que o próprio Bernanke não admitiria que este tivesse origem em si, um estudioso da armadilha keynesiana ao longo do seu percurso académico em Princeton.

BPN, Montepio e Finibanco

O sector da banca comercial nacional encontra-se em movimentações internas. Os contornos do caso BPN, à medida que o Estado português orienta as decisões finais para vendo do banco nacional, vão sendo conhecidos, originando uma tremenda controvérsia em termos sociais, devido ao desfasamento de montantes. O estado português, já com as injecções de liquidez do grupo Caixa Geral de Depósitos, gastou um montante próximo dos 2 mil milhões de euros, sensivelmente. Neste momento, o BPN encontra-se para venda por um montante mínimo dos 180 milhões de euros. Esta é a razão pela qual existe uma discordância política, partidária e social. Na verdade, o estado nacional tem ainda o direito de venda dos activos do BPN, esperando que estes sejam vendidos no longo prazo. Mesmo assim, o desfasamento é, ainda, elevado atendendo ao facto de que, muito dificilmente, os activos para venda sejam sobrevalorizados no futuro. Entretanto, os meios de comunicação social já adiantam nomes de algumas instituições financeiras, tais como o Barclays Bank e o Montepio Geral. Apesar destas informações terem sido desde logo desmentidas, pelo menos oficialmente, é muito provável que ambas as instituições tenham já pedido o caderno de encargos do BPN, para uma possível aquisição da mesma instituição financeira. O Montepio Geral, por exemplo, encontra-se oficialmente interessado em adquirir parte do capital do Finibanco, com o objectivo primordial de alcançar uma maior quota do sector financeiro nacional. Caso esta OPA consiga, de facto, ir para a frente, o Montepio Geral conseguiria ultrapassar, a título de exemplo, uma ultrapassagem no número de balcões face ao Banif. Esta Operação Pública de Aquisição foi lançada com a garantia da não ocorrência de despedimento de recursos humanos. As próximas semanas serão, ao que tudo indica, fundamentais para decisões estratégicas para ambas as instituições portuguesas.

Estarão os EUA a caminho da deflação?

Hoje, 10 de Agosto de 2010, a Reserva Federal norte-americana reuniu-se de emergência para apurar o que está ou pode acontecer na economia americana, a maior potência económica internacional. Em cima da mesa das instalações do FED está a possibilidade da economia americana se encontrar num cenário macroeconómico de inflação negativa, isto é, de deflação. Em termos de teoria económica, isto deve-se ao facto da economia norte-americana ter presenciado, de forma consecutiva, sucessivas desinflações, ou seja, quebras nas taxas de inflação face a períodos homólogos. Bem Bernanke, desde o início da crise internacional de 2008, há muito que já vinha alertando para esta mesma problemática. De facto, não é para menos. Um cenário destes já não é presenciado em solo americano desde o ano de 2003, aquando Alan Greenspan ainda liderava a reserva federal. Recorde-se que, com a chegada da crise financeira e recessão económica, o FED viu-se obrigado a cortar, de forma sucessiva, nas taxas nominais de juro de referencia do banco central americano, como resposta típica no combate ás recessões económicas. Efectivamente, esta medida, do ponto de vista da condução da política monetária, é uma resposta padrão a um cenário de baixo crescimento económico. Tal se deve ao facto de que, em presença de taxas nominais de referencia mais baixas, os investidores e demais agentes económicos sentem-se mais incentivados para investirem e gastarem. Na verdade, quase todas as economias optam por esta medida quando a economia necessita de um estímulo real, do lado do mercado monetário e financeiro. Os EUA também o fizeram, com taxas de juro quase nulas. Ora, numa situação em que o tecido empresarial e produtivo americano passou (e ainda passa) por um reajuste com a procura dos agentes económicos, é natural que a produção tenha de acompanhar as novas tendências da procura, pelo que, segundo as leis da oferta e da procura, haja uma diminuição dos preços dos bens e produtos comercializados nos EUA. Porém, esta situação não se fica por aqui. Esta nova realidade – de um possível cenário de deflação – seria, mais grave ainda, uma forte ameaça à tão badalada retoma da actividade económica internacional. Note-se que todas as economias mundiais dependem da “saúde” económica norte-americana, pelo que ainda hoje faz sentido afirmar que “quando os estados unidos espirram, as outras economias constipam-se”. Caso a deflação seja mesmo uma realidade, não serão só os norte-americanos a pagarem tal factura. Verdade seja dita, todas as economias mundiais poderão passar a conhecer, infelizmente, o poder destrutivo de deflação na economia dos EUA. Por de trás disto está, pois claro, a possibilidade desta economia cair numa “liquidity trap”, ou seja, uma armadilha da liquidez. Este cenário ocorre quando, nada mais, nada menos, os agentes económicos, em presença de taxas de juro nominais tão reduzidas, que somente poderão esperar que estas subam no futuro. De facto, é isto que os agentes americanos esperam e é assim, portanto, que se encontram a formular as suas respectivas expectativas. O problema poderá ser, ainda, mais sério caso o FED não tome medidas a tempo. Essencialmente, este é um problema que visa as expectativas dos agentes económicos, pelo que haverá, de forma subjacente, o perigo dos condutores da política monetária americana, num momento futuro, não conseguirem mais afectar as taxas de juro e, portanto, o produto americano, o que seria uma verdadeira catástrofe e razão pela qual se deu esta reunião hoje, em jeito de urgência total. Manifestamente, existem razões para ela existir.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Livro de Agosto

O livro encontra-se aqui: http://www.wook.pt/ficha/aqui-ha-gato/a/id/9423647

Trata-se de uma obra que visa explicar, de forma rápida mas bastante concisa, alguns dos esquemas de engenharia financeira que provocaram a crise financeira internacional de 2008. É uma excelente obra de Ken Fisher, autor de outros livros e manuais na área da gestão e das finanças.É essencial para perceber o que de mal se passou, passando a mensagem para combater tais esquemas num futuro próximo.

domingo, 15 de agosto de 2010

Negócio PT – Telefónica

Este foi, muito provavelmente, o negócio do ano no mercado accionista nacional no ano de 2010. Muito foi dito e escrito sobre os contornos do negócio em si, mais especificamente sobre a intervenção estatal nos supostos interesses privados, das empresas em questão. O expoente máximo do negócio entre a empresa de telecomunicações portuguesa e espanhola terá sido a intervenção de Bruxelas no assunto, isto depois do Estado português ter utilizado a sua golden share na Portugal Telecom. Apesar de ninguém colocar em causa a constitucionalidade da legislação europeia em torno das intervenções estatais em negócios entre agentes privados (como o recurso à golden share), o que é certo é que a utilização deste recurso salvaguardou os interesses estratégicos da PT e, por conseguinte, do Estado português e de Portugal. A participação da PT no mercado brasileiro era, para além de tudo o mais, uma presença estratégica e de mercado internacional. Há muito que a PT tinha apresentado uma estratégia de investimento além fronteiras, estratégia essa que, por si só, demonstrou uma modernidade à muito já exigida. Assim, posteriormente ao término da primeira fase do negócio (em que ambas as partes não chegaram a acordo devido ao recurso à golden share do Estado português), e já com o aviso de Bruxelas e da União Europeia, a PT rapidamente conseguiu obter uma visão de mercado, mais concretamente ao definir planos hipotéticos de continuar a marcar presença no mercado brasileiro. A escolha da PT recaiu, naturalmente, sobre a aquisição de uma quota-parte da empresa de telecomunicações OI. Efectivamente, numa segunda e última ofensiva espanhola, a Telefónica conseguiu, de facto, levar os seus interesses a melhor, comprando, portanto, a participação da PT na VIVO. De forma quase instantânea, uniram-se vozes contra o conselho de administração da PT (e dos seus accionistas), argumentando que estes almejaram, única e exclusivamente, os milhões dos contornos do negócio. Porém, na verdade, todo este timing entre a utilização da golden share e a venda (quase que já obrigatória) da participação da PT no mercado brasileiro de telecomunicações, permitiu, assim, a tomada de uma estratégia de mercado, razão pela qual a PT conseguiu, desde logo, a aquisição parcial da OI – líder de mercado na indústria das telecomunicações. Parece-me, inequivocamente, que este foi um negócio que foi bom para ambas as partes interessadas, ou seja, PT, Telefónica e Estado português. Apesar do confronto entre Portugal e Bruxelas, o recurso das acções douradas do Estado português foi verdadeiramente preponderante para um desfecho interessante para a empresa de telecomunicações nacional.

Liberalização do mercado de trabalho?

Será um imperativo fazer alterações profundas no mercado de trabalho? A título pessoal, acredito que sim. Exige-se uma mudança de cariz estrutural, onde dever-se-á colocar em prática medidas governamentais que visem incentivos marginais para um aumento de postos de trabalho na economia nacional. Como se deverá alcançar isto? Muito pessoalmente acredito que uma mudança no regime fiscal poderá e deverá ser a palavra-chave. Actualmente, o regime fiscal vigente pouco incentiva a criação de postos de trabalho. Os políticos nacionais, para além do jogo estatístico das variações decimais na taxa de desemprego, pouco têm feito nesta matéria. De entre as principais medidas mais abordadas, encontra-se a liberalização do mercado de trabalho. Aliás, já Jean Claude-Trichet, responsável máximo pela liderança do BCE, têm vindo a alertar para o imperativo da flexibilidade deste mercado. Esta flexibilização exigida defende, principalmente, alterações nos horários e nos salários nominais. A nível da flexibilidade de contratação e despedimento, este é o ponto que mais preocupa a classe trabalhadora e sindical. Efectivamente, esta questão, que está associada ao conceito de flexisegurança, permitirá novos mecanismos de despedimento mais rápido e, por outro lado, uma precariedade mais elevada. Contudo, estas não são as reivindicações que o próprio mercado exige. Exige-se, isso sim, um forte apoio dos Estados para se alcançar apoios significativos à criação de postos de trabalho. Os estímulos fiscais, segundo evidência passada, demonstraram ser a melhor resposta possível. Medidas liberais e ultra-liberais perante um mercado tão sensível – como é o mercado de trabalho – apenas conduzem a uma desregulamentação de mercado e, por conseguinte, a menos direitos individuais. Exemplo do falhanço destas políticas liberais reside no caso do mercado laboral nipónico. No Japão, por exemplo, a confiança na relação entre patronato e trabalhadores não necessita de flexibilidade do mercado, razão pela qual o Japão apresenta taxas de desemprego naturalmente baixas, mesmo em períodos extremamente complicados (como as recessões nipónicas na década de noventa, por exemplo). É absolutamente necessário combater ferozmente todas as conduções de políticas que visem um mercado de trabalho refém dos interesses empresariais de curto prazo, quando na verdade muitas dessas empresas, mesmo que dependam de outros importantes factores produtivos (como a tecnologia e o capital), dependem de uma mão-de-obra que permita a sustentabilidade económica, financeira e social da empresa no longo prazo.

O desfeche do caso BPN

Depois de mais de vinte meses após a nacionalização do Banco Privado Português, o governo nacional indicou que este poderá ser novamente privatizado. Mais do que a notícia em si representa para todos os portugueses, importa, isso sim, verificar os contornos em que esta operação foi realizada. Note-se que o montante mínimo para tapar o buraco do caso BPN rondará, sensivelmente, os 2 mil milhões de euros. No momento da nacionalização deste banco, a intervenção foi justificada pelo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, como sendo necessária a bem da estabilidade do sistema financeiro nacional, isto é, para não se ocorrer uma corrida aos depósitos neste banco comercial e, também, nos restantes demais. Apesar das campanhas de marketing, com bastantes personalidades credíveis da sociedade portuguesa, o que é certo é que as dívidas deste banco rapidamente ascenderam à casa dos milhares de milhões de euros e, por outro lado, em presença de uma crise financeira internacional, os seus principais activos encontravam-se bastante desvalorizados no mercado nacional e além fronteiras. Posteriormente às sucessivas injecções de capitais – por parte da Caixa Geral de Depósitos – este poderá, agora, ser vendido a qualquer instituição financeira ou seguradora. Serão vendidos, somente, 95% dos direitos desta instituição, esperando que os seus activos voltem a ser valorizados no mercado para, posteriormente, serem vendidos de modo a compensar os montantes inicialmente gastos. Com o parecer do encerramento do dossier BPN, espera-se, ainda, que este culmine com algumas condenações por crimes económicos, abuso de poderes e fraude fiscal.

Instrumentos de poupança: certificados de aforro e do tesouro

A poupança privada dos portugueses canaliza-se, principalmente, a duas grandes vias: os produtos financeiros (de risco nulo) das instituições financeiras – banca comercial – e os produtos financeiros públicos, como os certificados de aforro e do tesouro. Com o surgimento da crise internacional de 2008, e com o imperativo da descida das taxas de juro dos bancos centrais, os certificados de aforro tiveram uma remuneração para os investidores claramente mais baixa face ao período antes da recessão à escala global. Se com esta descida das remunerações, mantendo tudo o resto constante, os incentivos dos agentes privados optarem por poupar irá diminuir. Porém, perante a crise internacional, não foi só este factor que foi responsável pela diminuição da poupança privada agregada. Na verdade, o factor da diminuição das remunerações é o menos importante. Num cenário social bastante delicado, como o que ocorreu nos últimos dois anos, os rendimentos dos portugueses diminuíram drasticamente, uns em virtude de reduções salariais e outros por via da perda do seu posto de trabalho e, por conseguinte, da dependência das transferências sociais e de outros subsídios. para efeitos de poupança. Com o início do ano de 2010, e anunciada a chegada da retoma da actividade económica europeia e norte-americana, deu-se uma subida, ainda que pouco acentuada, nas taxas de juro dos bancos centrais, pelo que as remunerações dos depósitos a prazo também aumentaram. Do lado dos instrumentos de poupança lançados pelo Estado, estes também verificaram uma subida das taxas de juro para os aforradores; note-se que, atendendo à evolução do cenário macroeconómico nacional e além fronteiras, é com alguma naturalidade que os certificados do tesouro ganhem especial ênfase nos portugueses com capacidade de poupar. Comparativamente aos certificados de aforro, indexados a algumas taxas euribor, os certificados do tesouro apresentam remunerações mais elevadas, pelo que se está a assistir a uma grande adesão a este produto financeiro. Recorde-se que a poupança privada actual é deveras importante para o futuro da economia nacional. Ora, sendo Portugal uma economia em que se pode constatar os mais baixos níveis de poupança privada, quando comparado com os restantes países da Zona Euro, este cenário necessita de ser rapidamente alterado, no sentido de se verificar uma trajectória ascendente da poupança nacional. Irá ser essa mesma poupança que garantirá o investimento futuro dos portugueses e, portanto, da economia nacional. Para além destas questões, os baixos salários (nominais e reais) e os maus hábitos de gestão das finanças pessoais são dois factores importantes para este preocupante cenário nacional.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Consumo privado, poupança e exportações nacionais

A economia nacional tem gozado, segundo estatísticas lançadas pelo INE e pelo BdP, referentes ao segundo trimestre de 2010, de um aumento percentual, face ao período homólogo, do consumo privado e, também, das exportações realizadas. Tal como vinha acontecido, desde há alguns trimestres atrás, as exportações nacionais têm sido o principal motor da economia portuguesa. De facto, inúmeras economias mundiais adoptaram a estratégia de crescimento com base em políticas macroeconómicas que visem a estimulação às exportações nacionais; os resultados dessas economias foram, manifestamente, positivos, tal como seria de esperar segundo a teoria e ciência económica. Portugal, com base numa estratégia virada para a aposta nas exportações, tem seguido, e muito bem, esse tipo de políticas, pelo que os resultados nacionais têm aparecido, mas precisamente sob a forma de crescimento económico nacional. O consumo privado, que até aqui tinha apresentado uma tendência decrescente ou constante, aparenta agora estar numa trajectória claramente ascendente. Grande parte do aumento do consumo privado deriva, muito certamente, de uma antecipação de decisões de consumo, relativas ao aumento da carga fiscal sobre o Imposto de Valor Acrescentado, mais precisamente face ao sector automóvel. Este aumento do consumo privado, caso tudo o resto se mantenha constante, provocará um aumento do produto. Num cenário macroeconómico de muito curto prazo, é exactamente isto que acontece. Porém, a questão que importa levantar, atendendo a futuro e sustentabilidade da economia e dos agentes nacionais, é o ponto associado aos baixos níveis de poupança verificada na actualidade. Com uma saída, embora tímida, de uma conjuntura internacional grave, Portugal está a apresentar uma tendência de aumento do consumo, por parte dos agentes privados. Subjacente a esta questão, e bem preocupante, é a problemática de inexistência de hábitos de poupança privada, deveras fundamental para o investimento no longo prazo. Efectivamente, esta questão ganha, ainda, uma especial dimensão problemática quando o próprio Estado, em presença de um cenário orçamental como o presente, também não consegue efectuar uma poupança pública, ainda para mais com os projectos de investimentos futuros. Se, por um lado, a diminuição do investimento público provoca um abrandamento da actividade económica, tudo o resto constante, não menos verdade será que, apesar do esforço de contenção orçamental, ainda serão necessárias mais medidas que visem um corte sério nos desperdícios financeiros das instituições públicas, a bem do bem-estar social das gerações vindouras.

Sustentabilidade do sistema de segurança social de Portugal e da Europa

As delicadas questões da segurança social não ocorrem, apenas, em Portugal. As demais economias da Zona Euro, com sistemas de segurança social idênticos ao de Portugal, também apresentam sérios possíveis problemas com os seus respectivos sistemas, mais especificamente ao nível da sua sustentabilidade de médio ou longo prazo. Note-se que os sistemas de segurança social dependem, acima de tudo, das contribuições efectuadas pelos trabalhadores em idade para tal. Um dos pressupostos utilizados, do ponto de vista da análise teórica desta questão, prende-se com a tomada em consideração que, para haver sustentabilidade futura, a taxa de crescimento da população de uma economia terá de ser superior para fazer face, por exemplo, às pensões a atribuir àqueles que, anteriormente, trabalharam e contribuíram. Neste sentido, Portugal partilha dos mesmos problemas estruturais. Do ponto de vista da análise demográfica, a Europa apresenta, claramente, uma inversão da estrutura demográfica que deveria ser a mais correcta, isto é, uma sociedade maioritariamente composta por indivíduos que efectuassem as suas contribuições e, por outro lado, por um elevado número de jovens que, posteriormente, continuassem a envergar o grosso da população activa, trabalhadora e que, por conseguinte, fosse contributiva. Não é este o cenário da maioria dos países europeus, muito pelo contrário. Mais do que medidas que visem o aumento dos anos de reforma (e medidas que visem o combate à aposentação precoce, como penalizações anuais por indivíduo ao longo da sua carreira contributiva), são necessárias reformas estruturais, nomeadamente em termos de incentivos para que a “pirâmide” demográfica se altere, num sentido benéfico para todos. Para isso, serão necessários, também, incentivos ao aumento da natalidade, como são os casos dos prémios atribuídos a famílias numerosas. Porém, as medidas de aumento dos anos necessários de reforma são, portanto, menos dispendiosas para a despesa pública. Esta questão está a ganhar especial ênfase, pois está a começar uma discussão em torno da sustentabilidade destes sistemas, havendo quem defenda a liberalização deste sistema de segurança social, em que cada indivíduo poderia descontar para outras instituições privadas. Apesar de Portugal, tal como outras economias, rejeitar este sistema privado de segurança social, a sua privatização poderá ocorrer, por exemplo, por via dos mecanismos associados aos investimentos financeiros, realizados pelos próprios responsáveis pela administração dos sistemas de segurança social.

Mensagem Mensal | Agosto 2010

Mensagem Mensal | Agosto 2010

O mês de Julho terminou com a chegada de alguns indicadores macroeconómicos, como a produção industrial e o consumo privado, que são uma esperança para todos os portugueses. Contudo, e tal como quando se coloca algo em mente, é necessário ter as devidas cautelas. Como diz o provérbio popular, “é preciso ver para crer!” Na economia, e na formulação de expectativas por parte dos agentes económicos, acontece exactamente o mesmo. O aumento, bastante significativo, do consumo privado do último trimestre explica-se, essencialmente, devido ao aumento de vendas de viaturas automóveis. Por sua vez, este aumento de vendas ocorre precisamente numa fase de mudança fiscal, em que haveria, daí para a frente, um aumento significativo do preço dessas mesmas viaturas, por via do aumento do IVA. A produção nacional e industrial tem subido, principalmente, porque a economia nacional tem reagido bem às medidas de combate à crise internacional. O mesmo se tem passado noutras economias europeias. O enorme alarido político não poderá transparecer para uma euforia social, até porque esse cenário é altamente improvável de acontecer, nomeadamente devido a um alto e significativo nível de desemprego. O desemprego terá de ser, portanto, uma preocupação social de primeiro plano. Apesar de uma excelente resposta – que se traduz pelos indicadores macroeconómicos – Portugal urge numa mudança de formulação de políticas que vise a estimulação para a criação de postos de trabalho em território nacional. Ainda não tendo saído os números do INE face ao número de pessoas a ultrapassarem o limiar da pobreza de 2008 para cá, certamente que este número aumento de forma exponencial. De certo que algo terá de mudar ao nível de prioridades. A economia nacional, e os condutores da política económica de Portugal, não se poderá ficar pelos objectivos presentes no PEC. Acredito firmemente que é possível conduzir políticas que visem estimular as empresas e investidores, para a respectiva criação de postos de trabalho, sem nunca prejudicar o crescimento económico. A chave do sucesso poderá, e deverá, estar associada a uma mudança profunda e decisiva no sistema fiscal nacional. Por de trás de tal ideia, está subjacente a experiência ocorrida noutros sistemas fiscais europeus, nomeadamente a fiscalidade colocada em prática na economia irlandesa, a partir dos anos 80. Finalmente, Agosto será fortemente marcado pela instabilidade político-partidária nacional, demonstrando, portanto, uma incerteza nos agentes económicos, que se fará sentir nos próximos meses. Subjacentemente a esta questão, estará o debate nacional sobre uma possível revisão constitucional.

Futuro da moeda europeia

Com a chegada da crise financeira de 2008, esta rapidamente deu origem a uma grave conjuntura macroeconómica a nível mundial. De forma quase instantânea, nas economias europeias, tal como nas economias mundiais, fizeram-se sentir graves consequências sociais. No combate a tais problemas de fundo, os respectivos estados membros tiveram que formular uma política orçamental específica, manifestamente mais virada para o aumento da despesa pública, mais concretamente sob a forma de apoios e transferências sociais, para os cidadãos mais desfavorecidos. Com uma diminuição drástica da receita pública, e com a ascensão exponencial dos gastos do Estado, os défices orçamentais subiram, tal como as respectivas emissões de dívida pública de cada estado membro. A economia grega foi a primeira economia europeia e demonstrar as fragilidades financeiras e, com tudo o resto, a moeda europeia tornou-se, desde logo, alvo de uma descida de cotação cambial, principalmente face à moeda norte-americana, o dólar americano. Com este cenário cambial, rapidamente as agências de rating (agências que visam atribuir análises relativas ao risco de incumprimento de dívidas públicas e privadas) efectuaram, segundo os responsáveis pela política macroeconómica e monetária europeia, um acérrimo ataque à divisa europeia, o euro. Este ataque baseou-se, de forma bastante superficial na essência explicativa, nas sucessivas descidas ou cortes dos respectivos ratings, a cada estado membro. Posteriormente à economia grega, Portugal e Espanha também foram economias devastadas com os sucessivos cortes, por parte das várias agências de rating, pelo que, muito rapidamente, isso fez-se sentir nos mercados de compra e venda de títulos de dívida pública. Com tudo isto, a divisa europeia tem vindo a apresentar uma queda da sua cotação nominal, pelo menos até à data do verão de 2010. Na verdade, a desvalorização ocorrida no euro poderá, num cenário de muito curto prazo, beneficiar as economias europeias, no sentido de potencializar uma aposta nas exportações, beneficiando, também, de uma desvalorização face à divisa americana, ganhando, portanto, um aumento marginal em termos de competitividade da Zona Euro para com o resto das economias internacionais.

Paul Krugman e a saída de Portugal do Euro

Como todos sabem, desde há muito, sou um profundo admirador de Paul Krugman e do seu espírito crítico ao actual sistema económico, financeiro e, também, social. Admiro a sua capacidade crítica, bem como a sua extraordinária capacidade de explicar algo extremamente complexo, como a realidade económica e financeira mundial, a qualquer pessoa que se desinteresse pelas temáticas económicas. Porém, nem sempre poderia estar de acordo com a sua doutrina económica e com as suas ideias. No caso da afirmação do próprio face à saída de Portugal da divisa europeia, o euro, de facto jamais poderia concordar com tal ponto. Note-se que a saída de Portugal, depois de o mesmo tipo de ideias terem ocorrido face à economia grega, representa um estilo de política europeia que em nada representa aquilo que, manifestamente, fora prometido a nós, europeus. Apesar de ser um acérrimo defensor contra o presente modelo europeu – claramente capitalista, federalista e desrespeitador da cultura europeia – a saída de Portugal do euro seria, nada mais, nada menos, que o fim da economia portuguesa. Com a respectiva e hipotética saída da Zona Euro, Portugal passaria a ver os seus principais activos amplamente desvalorizados e, por outro lado, igualmente grave, passaria a contar com uma inflação drástica dos seus passivos, principalmente aqueles que representam títulos de dívida aos países europeus integrados no euro. Esta é a filosofia que terá de ser combatida! Ter-se-á de combater a Europa elitista, de modo a fazer-se cumprir o prometido, aquando da entrada de todos os estados membros europeus.

Liderança Europeia

Na Europa faltam líderes. Faltam líderes em quase todas as instituições europeias, principalmente naquelas em que os europeus dependem das políticas dessas mesmas instituições. Falta liderança na União Europeia, e na sua respectiva comissão, no ECOFIN, no BCE e, também, nos respectivos governos dos próprios estados membros. Liderança é, nada mais, nada menos que, para um dado nível de competências e motivação, alcançar o melhor resultado possível, atendendo ao trabalho daqueles que o desempenham e dos que os rodeiam. Ninguém colocará em causa, de certo, as competências académicas dos denominados “líderes” da Europa contemporânea, nem tanto as suas motivações de levar o projecto europeu a bom porto. A história diz-nos que as populações seguem os grandes líderes; um simples olhar para um passado, mais ou menos longo, e rapidamente chegamos a tais conclusões. Não se poderá exigir o máximo das próprias instituições, se estas mesmas não apresentam líderes capazes de fazer face à actual conjuntura de recuperação e retoma da actividade económica. Os erros de um passado, claramente breve e ainda presentes na cabeça dos agentes e investidores económicos, jamais poderão ocorrer. Desde os erros ao nível da supervisão financeira, e das instituições com tais tipos de responsabilidades, até aos erros de análise dos cenários macroeconómicos das economias europeias – como a economia grega e islandesa –, estes também tiveram a sua quota-parte na chegada da crise internacional e, também, na forma como esta foi abordada e combatida. Mais uma vez, poder-se-á legitimar que tais problemas estão associados a uma falta de liderança carismática. Porém, colocando o passado de parte, o futuro exige necessidades de fundo, que necessitam, portanto, de uma liderança à altura. Apesar da falta de liderança, num panorama europeu onde nos encontramos, ser um problema de fundo, as actuais “lideranças” mostram-se algo relutantes quanto ao futuro da União Europeia e da própria divisa europeia, o euro. Uma liderança forte e capaz de explicar o projecto europeu aos próprios europeus passa, como não poderia deixar de ser, por assegurar uma estratégia europeia para o futuro; estratégia essa que terá de garantir, também, que estamos presentes numa Europa solidária para com os seus respectivos estados membros e, por outro lado, colocar automaticamente de lado a Europa elitista e discriminatória, que vê nas economias mais fracas os problemas nucleares, tentando, portanto, equacionar a sua respectiva saída da Zona Euro.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Mensagem mensal: Julho de 2010

Julho de 2010


O presente mês de Julho começou com boas notícias para a economia portuguesa. As expectativas foram revistas em alta para o crescimento económico nacional e, de facto, isso foi possível de constatar com o lançamento dos dados trimestrais da evolução do PIB nacional. Relativamente à inflação, por exemplo, esta tem crescido na Zona Euro de forma lenta, potencializando, portanto, o crescimento económico na Europa e, face à evolução das taxas de juro de referência do BCE de Jean Claude Trichet, estas ficaram inalteradas. Porém, as notícias positivas para a Europa podem ficar por aqui mesmo. No seio da União Económica Monetária, é de salientar uma discussão de fundo quanto ao próprio futuro da mesma, mais especificamente numa questão filosófica ou de carácter da própria União Europeia. Basicamente, a questão é a seguinte: será que queremos ter uma UEM solidária ou, contrariamente a isto, uma UEM elitista?
A resposta não poderá, nem deverá, ser dada de forma singular ou individual. Para isso, já nos chega a filosofia germânica de domínio, por completo, da restante Zona Euro, isto por pura e simplesmente dominar, de facto, o mercado bancário e, por conseguinte, da sua poderosa quota de mercado bancária.

O facto da ajuda à Grécia ter demorado tanto tempo é, infelizmente, um péssimo sintoma para o conceito de UEM solidária que tanto foi defendida, nomeadamente no início ou fundação da mesma. Rapidamente os europeus, e nós portugueses, nos apercebemos que tal solidariedade seria, muito provavelmente, um mito inexistente no quotidiano europeu. Relativamente a esta matéria, somente o futuro nos dirá qual será, manifestamente, o futuro da União Europeia.

Voltando novamente ao cenário macroeconómico nacional, o que mais vai preocupando os portugueses é, portanto, o elevado desemprego que ainda se faz sentir.
Por outro lado, o mês de Julho está a ser fortemente marcado por uma discussão séria em torno da sustentabilidade do modelo de segurança social nos estados membros da Zona Euro. Os actuais modelos de segurança social, segundo os governantes europeus, necessitam de medidas que visem o aumento dos anos de reforma dos trabalhadores nacionais e europeus. Tais medidas, apenas resolverão os problemas de curto prazo das economias e modelos europeus, pois o problema de fundo é, principalmente, um problema associado à inversão da pirâmide demográfica, o que prejudica por completo os modelos de segurança social que actualmente presenciamos.

Livro de julho



Trata-se de uma obra que apresenta um tema que toca na ferida da humanidade, quer ao nível dos países já desenvolvidos, quer, também, face aos ainda em desenvolvimento e que, por conseguinte, são os claramente mais carenciados ao nível de apoios internacionais.

As duas grandes questões que o presente livro procura responder são as seguintes:

1) Por que motivo os países mais carenciados do mundo estão a ficar cada vez mais pobres?
2)Qual a verdadeira chave para o seu crescimento?

"É difícil encontrar ideias eficazes sobre desenvolvimento mas o Professor Collier pode ter identificado o próximo passo para a mudança positiva."
The New York Times

Regresso

Posteriormente a uma pausa de, sensivelmente, dois meses - por questões de ordem profissional - o economia XXI reabre novamente.

sábado, 10 de abril de 2010

Crescimento Económico, Capital Humano e a Economia Nacional





Mário Fernandes
Universidade Lusófona *

Crescimento Económico, Capital Humano e a Economia Nacional

De entre a comunidade académica mundial, a nível dos estudos e investigações na área das ciências económicas, uma das questões deveras mais focadas terá sido, muito provavelmente, a questão do crescimento económico. Assim sendo, tal como em muitos outros aspectos, intimamente ligados à própria economia, nomeadamente as tendências ideológicas e académicas na investigação económica, a questão do crescimento económico tem permanecido em constantes evoluções, principalmente no que diz respeito ás questões associadas aos diversos modelos de crescimento económico. De forma simples e sintética, vamos perceber onde encaixar a questão do capital humano. Basicamente, até há cerca de três décadas atrás, os modelos de crescimento económico neoclássicos eram, de facto, os mais importantes a nível académico e, perante a realidade das economias mundiais, conseguiam explicar alguns aspectos fundamentais, mais precisamente no que diz respeito ás dinâmicas de acumulação de capital físico. Até essa data, eram tomados em consideração somente alguns factores produtivos, como sejam o capital físico, o trabalho e os recursos naturais. Robert Solow, já no ano de 1956, conseguiu reforçar as teorias de crescimento neoclássicas, particularmente com os pressupostos assumidos e com a inclusão do avanço do estado da tecnologia, o que até então não se tinha verificado. Por outro lado, este mesmo modelo de Solow foi, à data, revolucionário. Isto foi possível devido ao facto de estarmos em presença da análise dos crescimentos económicos das economias mais desenvolvidas e, contrariamente a estas, as menos avançadas. Já no final dos anos 80, e no início dos anos 90, Paul Romer, economista da universidade de Stanford, apresenta-nos a nova teoria do crescimento económico, que coloca o assento tónico no capital humano. Para Romer, a evidência microeconómica diz-nos que os salários serão tanto maiores com o número de anos investidos em educação e presentes no sistema de ensino. Assim, Romer advoga que o crescimento económico está intimamente associado ás externalidades positivas da educação, pelo que o existem um conjunto de quatro questões deveras importantes, ou seja, o investimento estatal na educação, o investimento das empresas em investigação e desenvolvimento (I&D), um maior aproveitamento dos recursos e competências para a inovação e, finalmente, a questão do learning-by-doing, ou do aprender-fazendo.
Assim, a evidência macroeconómica demonstra isto mesmo, isto é, os países que mais têm apostado nestes quatro pilares da educação e do conhecimento têm apresentado a justificação face ás questões da divergência no crescimento.
Neste aspecto, novamente, as economias nórdicas têm liderado a economia do conhecimento, através de fortes investimentos na educação e no sistema de ensino. A questão que importa colocar é a seguinte: será que Portugal, e por conseguinte os seus governantes e empresários, se aperceberam da consciência da importância da aposta no capital humano? Se sim, o que foi manifestamente feito e quais os seus resultados?
Inúmeras diferenças ocorreram no sistema de ensino nacional, em especial durante o último meio século. Até à alguns anos após o 25 de Abril, vigorava um sistema de ensino que, segundo alguns especialistas internacionais, se adequava ás necessidades das empresas nacionais e das principais indústrias. Esse tipo de ensino era focado, essencialmente, e no que diz respeito ao ensino profissional dessa altura, nas respectivas componentes comerciais e industriais, em particular com as escolas comerciais e industriais, onde os alunos que seguiam por esta via de ensino podiam especializar-se numa destas duas áreas. A área comercial e a área industrial ajustavam-se, assim, à realidade empresarial nacional. Porém, este tipo de ensino – manifestamente mais focado para a componente prática do sistema de ensino – não implicava reduções drásticas nos números de alunos no ensino superior. Sendo Portugal um país que sempre tivera presenciado uma baixa taxa de alunos no ensino superior, em especial ao compararmo-nos com os nossos vizinhos europeus, esse Portugal à data tivera o boom de admissões de discentes nas universidades públicas nacionais. Porém, já bem após Abril de 1974, o ensino profissional, de cariz comercial e industrial, acabaria por ser dado como terminado. Passar-se-ia, então, para um sistema de ensino manifestamente mais virado para algumas áreas do saber e das ciências, como são o caso da filosofia ou das ciências naturais ou económicas. Efectivamente, este novo ensino nacional iria permitir, sem quaisquer margens para dúvidas, uma maior e melhor preparação para um ensino superior nacional mais exigente e com os olhos colocados nas boas práticas académicas além fronteiras. Contudo, também se pôde constatar tremendos impactos no mercado de trabalho, mercado esse tão sensível em termos sociais. Com esta mudança ocorrida no sistema de ensino, verificou-se, também, a não profissionalização de todo um conjunto de postos de trabalho e de profissões, nomeadamente no que diz respeito ás profissões mais viradas para as áreas técnicas. Evidentemente, fez-se reflectir no mercado de trabalho nacional, atendendo, como não poderia deixar de ser, por via dos efeitos da lei da oferta e da procura. Esta questão só acabaria por ser resolvida já no século XXI, ou seja, com a mudança deste sistema de ensino e com a inclusão, tal como já acontecera muito antes do 25 de Abril, do ensino profissional e com as devidas equivalências ao ensino básico e secundário. Actualmente, existe ainda uma segunda vantagem – que não haveria sequer no anterior regime – que se prende com a possibilidade dos alunos que optem por esta via de ensino poderem, posteriormente, ingressar no ensino superior. Ora, esta mesma mudança terá duas componentes distintas, isto é, a face das vantagens para o mercado de trabalho e os impactos de custos na elaboração dos orçamentos de estado. Vamos começar com as vantagens; relativamente à questão do mercado de trabalho, a inclusão de um ensino profissional permite colmatar todo um conjunto de falhas anteriores, principalmente falhas relativas à não profissionalização de certos postos de trabalhos na economia nacional, nomeadamente postos de trabalho onde são exigidos conhecimentos de cariz mais técnicos, pelo que será expectável melhorias de eficiência e de produção em termos microeconómicos. Por outro lado, temos o impacto macroeconómico desta questão, isto é, com um sistema de ensino mais focado para a área profissional é esperado um maior número de alunos nestes cursos profissionais com equivalência legal à restante estrutural básica e secundário de ensino. Esta maior atractivamente permite que certo tipo de alunos permaneça no sistema de ensino, pelo que, um efeito de curto prazo para com o mercado de trabalho, será uma redução da taxa de desemprego. Isto acontece devido ao facto de que, muitos destes alunos, caso este ensino não existisse, entrariam no mercado de trabalho e, muito provavelmente, seriam mais uns a entrarem na contabilização da taxa de desemprego, já de si bastante elevada. Por outro lado, temos os custos – directos e indirectos – associados a esta mudança. Tal como mostra a figura abaixo indicada, temos a evolução do investimento do estado em educação. Note-se que, posteriormente a um período de um crescente nas despesas com a educação, temos, também, uma quebra neste mesmo tipo de despesas. Assim sendo, as reformas estruturais no sistema de ensino poderão funcionar como uma própria estabilização do investimento público na educação, o que só poderá ser visível a longo prazo.




Fonte: PORDATA – Base de Dados Portugal Contemporâneo

Na figura, temos ainda a evolução dos privados em investigação e desenvolvimento. Ao contrário da série pública, esta série permite-nos concluir que estamos numa tendência positiva no I&D. Uma leitura disto poderá ser o facto do sector produtivo nacional ter, finalmente, tomado consciência da aposta no capital humano como tentativa de maiores aumentos na produtividade total e média e, por outro lado, na criação de novos produtos nacionais que permitam, assim, atender a novos mercados nacionais e além fronteiras. Nas primeiras jornadas de economia, gestão e ciência política, ouvi um certo orador afirmar que em tempos de crise era necessário retirar o “s”, isto é, “em tempos de crise, crie!”. Por fim, no panorama nacional, temos ainda a questão do programa novas oportunidades. Muito se tem dito nesta matéria, referente a este programa, mas ainda é cedo para se fazer um balanço final relativamente ao impacto desta medida no quotidiano do sector empresarial e da própria economia. Os partidários das novas oportunidades argumentam a favor da necessidade imperativa de maiores qualificações dos trabalhadores, o que, de facto, faz todo o sentido. Contudo, a grande questão neste aspecto passa pela averiguação da exigência, credibilidade e dificuldade deste mesmo programa, relativamente ao sistema de ensino nacional, nomeadamente o ensino básico e secundário. Portanto, relativamente a esta questão, muitos especialistas advogam que existem, sim, uma maior facilidade no programa novas oportunidades, relativamente ao ensino convencional, o que nem mesmo a elevada experiência profissional daqueles que participam no programa, justificam tremenda falha face à exigibilidade dos quadros profissionais.
Porém, um aspecto está assegurado: se a educação e a economia do conhecimento estão intimamente relacionadas com o crescimento das economias mundiais, este mesmo maior investimento em capital humano apresenta, por um lado, um desenvolvimento pessoal para os cidadãos – que são o alvo desse investimento – mas também um desenvolvimento agregado social, para uma qualquer economia.
De facto, ao contrário dos modelos neoclássicos de crescimento económico, não existe produtividade marginal decrescente das ideias e da inovação, tal como acontecia no capital físico. Será esta a rota em que Portugal se direcciona? A haver uma estratégia nacional, este será um caminho obrigatório!

* Investigador do Observatório Lusófona de Actividades Económicas (OLAE) – Centro de Investigação da Universidade Lusófona

sexta-feira, 2 de abril de 2010

livro do mês: In FED we trust!




«O conhecimento profundo que David Wessel revela sobre a Reserva Federal Americana e sobre a política e economia dos EUA será estudado em pormenor pelos historiadores durante décadas e décadas… Ninguém pode julgar compreender aquilo que se passou sem ler este livro.»
Joseph E. Stiglitz, Prémio Nobel de Economia (2001)

Ao longo de mais de 20 anos, David Wessel foi o jornalista residente do Wall Street Journal junto da Reserva Federal Americana, tendo acesso privilegiado não só aos seus governadores, Alan Greenspan e Ben Bernanke, mas também aos outros dirigentes e especialistas financeiros. E, se bem que a Constituição estabeleça uma divisão tripartida do poder nos EUA (executivo, legistativo e judicial), é certo que nas últimas décadas despontou um quarto poder – o da Reserva Federal.

O FED é a mais importante instituição financeira do mundo, conduzindo a economia americana – e o seu valor astronómico de 13 biliões de dólares – através da impressão de dinheiro e da sua influência no preço do crédito. Em tempos estáveis, tem um poder extraordinário (se bem que despercebido) no dia‐a‐dia de todas as pessoas de todo o mundo. Mas é quando as coisas correm mal, como aconteceu entre 2007 e 2009, que a importância do FED parece explodir. E, no entanto, este quarto poder, vital para todos nós, é uma instituição profundamente não democrática.

Ao explicar o que aconteceu e porquê durante o grande pânico de 2008, David Wessel mostranos como é que o FED funciona realmente – e mostra‐nos os medos que Bernanke e outras personagens tiveram de enfrentar quando parecia que tudo ia desabar. «E se nos enganarmos, como durante a Depressão? E depois?»

Este livro é uma leitura única e perspicaz de um episódio cujas ondas de choque estão ainda a abalar a economia mundial, e de como, à medida que os meses foram passando, tudo parecia não ter salvação – a não ser que…

FNAC

Mensagem mensal: Abril de 2010

Mensagem mensal

Abril de 2010

Seria manifestamente impossível fazer uma referência ao mês de Abril, no qual no encontramos, sem não fazer uma referência à liberdade de expressão ou à falta dela. Por conseguinte, neste mesmo mês, inúmeras referências serão atribuídas ao dia 25 de Abril de 1974.
Infelizmente, ao longo destes últimos 36 anos, não houve qualquer tipo de debate nacional sobre uma análise séria e isenta daquilo que o 25 de Abril foi, e com isso, analisar cuidadosamente os seus prós e contras. Evidentemente, seria uma excelentíssima oportunidade para fazer, por outro lado, uma reflexão séria sobre a economia portuguesa no pós 25 de Abril de 1974. Por ser uma data que nos remete para uma suposta liberdade de expressão, e agora no que diz respeito à condução e formulação de políticas económicas nacionais, Portugal encontra-se privado de instrumentos macroeconómicos verdadeiramente importantes para uma saída de recessão e, mais importante ainda, que nos permitissem superar os problemas gravíssimos a nível estrutural que a nossa nação se depara. Por outro lado, ainda no campo económico nacional, uma pequena palavra para o tecido produtivo nacional que, mais uma vez, pouco ou nada beneficiou com o “Abril”. Dos loucos tempos do PREC, passamos, agora, para a retirada em definitivo do R entre o P e o E e , por conseguinte, isso traduz-se numa estagnação temporal em torno de um PEC aos cuidados dos olhares especulativos que, tão por boas razões, olham para Portugal.
Porém, o panorama internacional é, numa primeira análise, bastante mais claro que o nosso. Depois dos números lançados nos EUA, Barack Obama já veio manifestar que esses mesmos números – que mostram uma evolução positiva no que diz respeito à queda da taxa de desemprego – são uma luz ao fundo do túnel. E, de facto, são mesmo! Espera-se, assim, que este ano continua a demonstrar que talvez 2011 seja já o ano do crescimento económicos das principais economias mundiais, pelo que, 2010 terá de continuar a ser o ano dos indicadores da, já definitiva, retoma da actividade económica.
Aproveita ainda para dirigir aos leitores – e seus familiares – do blog, no sentido de lhes poder desejar os votos de uma excelente Páscoa!

sábado, 27 de março de 2010

Grécia, UE e FMI

Não raras vezes olhamos com especial atenção para o que de bom se faz na condução e formulação da política macroeconómica. Como é evidente, não vou criticar isso e, por conseguinte, quem o faz.

Porém, tenho por hábito fazer exactamente o oposto, isto é, prestar atenção ás más práticas. Neste plano, a Grécia é um excelente exemplo. Antes mesmo da adesão da Grécia à União Económica Monetária, já a Grécia, frequentemente, frequentava os últimos lugares no que diz respeito aos indicadores económicos e macroeconómicos.

Posteriormente à entrada deste estado membro na União Europeia, a Grécia - tal como os demais países ou estados aderentes ao plano federalista de Bruxelas - perdeu um conjunto de políticas que, sem margens para dúvidas, poderiam contribuir para uma maior independência na tomada de decisões para uma saída da crise mais rápida e eficaz.

Supostamente, haveria um reverso da medalha pela adesão à União Europeia, isto é, a capacidade desta UEM ser capaz de ajudar, directa e indirectamente, os estados membros com necessidade de tais ajudas europeias. Contudo, o focagem na doença é, ainda hoje, tão ou mais importante que a cura.

As sucessivas derrapagens orçamentais gregas fizeram-se sentir, consecutivamente, perante mais de uma década e, posteriormente à badalada crise internacional de 2008, o défice orçamental e a dívida pública grega tornaram-se, eminentemente, possíveis bombas a rebentar a qualquer momento. Neste caso, a existência de critérios na condução da política orçamental praticamente não serviram para absolutamente nada. Os critérios, de facto, existem, porém, não são cumpridos pelos estados membros; e, mais grave ainda, é o facto de existirem mais estados membros nesta situação, como é o caso nacional.

Depois de muito já se ter dito e escrevido sobre este assunto, leva-nos, manifestamente, a chegar a uma conclusão importante, ou seja, que, dos muitos estados membros, existem alguns com maior poder de decisão e de pressão. Nunca novidade tal facto. Contudo, algo terá de ser feito, até porque poderia haver implicações negativas com a presença do FMI em solo europeu e da UE, nomeadamente os ataques das agências de rating para com mais países em situação idêntica à da nação grega.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Primeira grande vitória!

Trata-se da primeira vitória para o presidente norte-americano, Barack Obama: a reforma no sistema de saúde.

Depois de inúmeras batalhas no senado e no congresso norte-americano, e ao que tudo parece, a reforma do sistema nacional de saúde parece ser uma forte realidade para milhões de norte-americanos.

Segundo os dados mais optimistas, vindos do próprio partido democrata, esta reforma irá ser sinónimo de melhorias significativas nos cuidados de saúde a, pelo menos, 35 milhões de pessoas, aproximadamente.

Do lado contrário reina, como é óbvio, o sentimento de insatisfação face a esta reforma no sector da saúde. Evidentemente, a situação de oligopólio das seguradoras norte-americanas irá estar em cheque, nomeadamente através de fugas de pessoas para o sistema de saúde estatal, para o qual contribuem sobre a forma de impostos e as demais taxas associadas aos cuidados de saúde agora assegurados.

Por outro lado, ainda, o contra-ataque republicano já se fez sentir, particularmente na chamada de atenção para os eleitores norte-americanos para a possibilidade elevada de um aumento da carga fiscal e dos impostos.

Independentemente da troca de argumentos entre republicanos e democratas, é possível retirar duas grandes conclusões, que dificilmente se poderão contrariar:

i) por um lado, está já garantido um sistema nacional de saúde que, ao longo da história norte-americana, nunca existira. Por conseguinte, esta é, assim, a primeira vitória de Barack Obama.

ii) do ponto de vista mais macroeconómico, diversos analistas liberais já teriam manifestado a vontade de ver colocada em prática esta promessa eleitoral. Assim sendo, a reforma no sistema nacional de saúde poderá ser, como já Paul Krugman defendera na sua última obra "consciencia de um liberal", o sinal da continuação de um estado mais virado para o progresso social, pelo que, nesta situação, e com o aumento do défice norte-americano, caminhamos para a continuação dos bons velhos estímulos keynesianos nas economias modernas.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Ben Bernanke e a regulamentação

Ben Bernanke já deixou o aviso bem patente: a regulamentação ao sistema financeiro norte-americano deverá, no mínimo, permanecer.

Efectivamente, não seria de esperar o contrário por parte do Prof. Ben Bernanke.

Depois do segundo maior mandato de sempre na história do FED, liderado por Alan Greenspan durante tal período, e da maior recessão à escala global após a grande depressão, nada mais poder-se-ia exigir a um senhor como Ben Bernanke.

A ocasião faz o ladrão. Quantas menos ocasiões houverem, melhor. Bem haja à regulamentação no sistema financeiro!

quarta-feira, 17 de março de 2010

A ler: Consciência de um liberal



Trata-se, sem quaisquer margem para dúvidas, de um excelente livro de Paul Krugman.
Aliás, não é um excelente livro, mas sim mais um excelente livro.
Colocando a questão política de fora, o que, neste livro, será missão quase impossível, Paul Krugman aborda de forma simples e sintética a história económica norte-americana do último século a nu. Desse ponto de vista, Paul Krugman volta a reconquistar os leitores mais atentos e interessados pela economia americana no pós depressão.

Porém, tal como já tinha referido, trata-se de uma obra política. Melhor dizendo, de política económica.
Desse ponto de vista, existe, como não poderia deixar de ser, um tremendo enviesamento partidário democrata, até porque o lançamento desta obra serviu como apoio semi-oficial ao actual presidente norte-americano, Barack Obama.

A grande questão aqui passa por saber "separar as marés"! Se o partido republicano goza de um financiamento, através do lobbie, lá está, do poder económico, faltava referir, até por uma razão de transparência e honestidade, o financiamento judaico - oficial ou não - para a campanha democrata, isto para não falar, como não poderia deixar de acontecer, do próprio financiamento através de lobbie.

domingo, 14 de março de 2010

Apontamentos sobre o PEC

Posteriormente à publicação e divulgação do PEC - Programa de Estabilidade e Crescimento - podemos retirar inúmeras ilações acerca disto mesmo.

A primeira delas, a mais importante de todas as demais, prende-se com a estrutura da própria economia nacional, isto é, com os problemas estruturais de Portugal.
Já tinha referido isto mesmo várias vezes em diversos comentário.
Aqui fica a "prova provada" de que Portugal,a após o cenário de retoma da actividade económica mundial ou internacional, terá de abordar com cuidado a questão do crescimento.
Actualmente, Portugal está manifestamente focado no combate ao défice orçamental e, por conseguinte, à elevada dívida pública. Isto é o que justifica os objectivos primordiais daqueles que têm responsabilidade na formulação de políticas económicas e sociais. Porém, será que os outros países não apresentam défices tão elevados como os nossos, ou até mais altos?
Claro que sim! A economia norte-americana é, sem margens para dúvidas o melhor exemplo.

Assim sendo, só gostaria de deixar uma pequena nota para o simples facto de que, pessimista como sou, acho que Portugal poderá não morrer da doença mas sim da cura.
E passo desde já a explicar.
Portugal, depois dos avisos seguidos de Bruxelas, terá de provar um enorme e tremendo combate ao défice. Ora, como não se irá esperar um aumento significativo da capacidade de arrecadar impostos e tributações, isto é, da receita efectiva, o combate também se fará por via da despesa.
Assim, a política orçamental está fortemente condicionada.
Exemplo disso será, também, os cortes no investimento público; alguns destes cortes são, de facto, uma lufada de ar fresco para as gerações vindouras que têm tanto direito como nós, quando viemos ao mundo, a terem uma economia e um futuro não hipotecado.

A nível da política monetária e cambial, estamos novamente amarrados, pois não somos soberanos ao nível destas políticas.

Do ponto de vista político, esta questão também foi bastante mal abordada, pelo que a retoma da actividade económica foi uma falsa partida. Agora, depois dos nossos "concorrentes" já terem iniciado a marcha, temos ainda que acarretar com um aumento dos preços e, por conseguinte, e em principio, com o aumentos dos combustíveis, por exemplo.

sábado, 13 de março de 2010

Artigo de opinião: Ben Bernanke

Mário Fernandes
Universidade Lusófona *


Ben Bernanke

Há algumas semanas atrás pudemos assistir à declaração do presidente norte-americano, Barack Obama, para dar luz verde à continuidade de Ben Bernanke como responsável máximo da Reserva Federal norte-americana, FED. Apesar de ainda faltar o apoio do senado americano, e ao que tudo indica, Ben Bernanke irá ver, assim, o seu mandato renovado para os próximos quatro anos. Se por um lado nenhum presidente de um qualquer banco central deseja que seja no seu mandato que ocorra uma das maiores crises financeiras e económicas que o mundo presenciou, então também não será menos verdade que Ben Bernanke poderá, finalmente, respirar de alívio pelo facto desta crise não ter tido o desfecho da depressão dos anos 30. As próprias estatísticas do FED, bem como do Banco Central Europeu, liderado pelo homólogo Jean Claude Trichet, mostram que a recuperação da actividade económica já está ao virar da esquina, atendendo que se registaram, pela primeira vez desde há muito, um inverter da tendência de recessão técnica, particularmente, a nível europeu, com motores da economia do velho continente como a Alemanha e a França. Deste modo, o evitar de um transformar de uma crise para uma depressão e a retoma da economia americana foram os principais trunfos de Ben Bernanke para a permanência à frente da Reserva Federal. Ainda neste campo, um dos outros argumentos do presidente Obama prendeu-se com as expectativas da renovação de Ben Bernanke perante os agentes e mercados. Porém, reúnem-se algumas vozes críticas face a Bernanke; segundo alguns analistas norte-americanos, a credibilidade do presidente da Reserva Federal norte-americana foi bastante afectada atendendo ao facto deste ter, alegadamente, demorado tempo demais a intervir nos mercados financeiros norte-americanos. É certo que as ajudas completamente astronómicas ao sector financeiro americano chocaram os cidadãos, contudo, a situação assim o exigia. Num país em que urge uma necessidade de fundo de renovar por absoluto o sistema de saúde, por exemplo, muitos não conseguiram conter a revolta face aos montantes galácticos gastos para o sector bancário não cair de novo, o que seria a derrocada final do sistema capitalista. Ben Bernanke reagiu e os resultados estão a chegar. Muitos dos que criticaram Alan Greenspan por falta de intervenção nos mercados, como Paul Krugman, laureado com o prémio Nobel da Economia em 2008, não o deverão fazer agora com Bernanke.
Noutro plano agora, resta-nos aguardar que FED vamos ter na afirmação da retoma económica, na questão de crescimento económico de médio e longo prazo e, não menos importante, a nível dos reajustes dos mecanismos de supervisão do mercado em conjunto com a CTC, entidade de regulamentação dos mercados cambiais e também monetários e financeiros.
Além do mais, Ben Bernanke poderá ser o homem ideal para o rejuvenescer da motor da economia global devido ao seu percurso académico, manifestamente vocacionado para o estudo e análise das crises monetárias que abalaram o mundo, a grande depressão da década de 30, que, mais do que nunca, esteve perto de reaparecer senão fosse a resposta do FED liderado por si mesmo, e também a crise japonesa da armadilha da liquidez, crise essa que foi apontada por diversos analistas mundiais como a próxima etapa negra da economia americana.
Verdade seja dita, Ben Bernanke, aquando a sua chega ao FED, foi confrontado com uma situação potencialmente catastrófica cedida pelo seu antecessor, Alan Greenspan, que, apesar de ter sido considerado uma lenda diante os banqueiros centrais, e segundo Paul Krugman, uma das vozes mais críticas a Alan Greenspan, terá reagido demasiado tarde nos mercados financeiros, nomeadamente ao tardar no aumento das taxas de juro de referência do FED e, com isso, compactuando no aumento significativo dos índices das bolsas norte-americanas.



* Investigador do Observatório Lusófona de Actividades Económicas (OLAE) - Centro de Investigação da Universidade Lusófona