sábado, 21 de agosto de 2010
Estarão os EUA a caminho da deflação?
Hoje, 10 de Agosto de 2010, a Reserva Federal norte-americana reuniu-se de emergência para apurar o que está ou pode acontecer na economia americana, a maior potência económica internacional. Em cima da mesa das instalações do FED está a possibilidade da economia americana se encontrar num cenário macroeconómico de inflação negativa, isto é, de deflação. Em termos de teoria económica, isto deve-se ao facto da economia norte-americana ter presenciado, de forma consecutiva, sucessivas desinflações, ou seja, quebras nas taxas de inflação face a períodos homólogos. Bem Bernanke, desde o início da crise internacional de 2008, há muito que já vinha alertando para esta mesma problemática. De facto, não é para menos. Um cenário destes já não é presenciado em solo americano desde o ano de 2003, aquando Alan Greenspan ainda liderava a reserva federal. Recorde-se que, com a chegada da crise financeira e recessão económica, o FED viu-se obrigado a cortar, de forma sucessiva, nas taxas nominais de juro de referencia do banco central americano, como resposta típica no combate ás recessões económicas. Efectivamente, esta medida, do ponto de vista da condução da política monetária, é uma resposta padrão a um cenário de baixo crescimento económico. Tal se deve ao facto de que, em presença de taxas nominais de referencia mais baixas, os investidores e demais agentes económicos sentem-se mais incentivados para investirem e gastarem. Na verdade, quase todas as economias optam por esta medida quando a economia necessita de um estímulo real, do lado do mercado monetário e financeiro. Os EUA também o fizeram, com taxas de juro quase nulas. Ora, numa situação em que o tecido empresarial e produtivo americano passou (e ainda passa) por um reajuste com a procura dos agentes económicos, é natural que a produção tenha de acompanhar as novas tendências da procura, pelo que, segundo as leis da oferta e da procura, haja uma diminuição dos preços dos bens e produtos comercializados nos EUA. Porém, esta situação não se fica por aqui. Esta nova realidade – de um possível cenário de deflação – seria, mais grave ainda, uma forte ameaça à tão badalada retoma da actividade económica internacional. Note-se que todas as economias mundiais dependem da “saúde” económica norte-americana, pelo que ainda hoje faz sentido afirmar que “quando os estados unidos espirram, as outras economias constipam-se”. Caso a deflação seja mesmo uma realidade, não serão só os norte-americanos a pagarem tal factura. Verdade seja dita, todas as economias mundiais poderão passar a conhecer, infelizmente, o poder destrutivo de deflação na economia dos EUA. Por de trás disto está, pois claro, a possibilidade desta economia cair numa “liquidity trap”, ou seja, uma armadilha da liquidez. Este cenário ocorre quando, nada mais, nada menos, os agentes económicos, em presença de taxas de juro nominais tão reduzidas, que somente poderão esperar que estas subam no futuro. De facto, é isto que os agentes americanos esperam e é assim, portanto, que se encontram a formular as suas respectivas expectativas. O problema poderá ser, ainda, mais sério caso o FED não tome medidas a tempo. Essencialmente, este é um problema que visa as expectativas dos agentes económicos, pelo que haverá, de forma subjacente, o perigo dos condutores da política monetária americana, num momento futuro, não conseguirem mais afectar as taxas de juro e, portanto, o produto americano, o que seria uma verdadeira catástrofe e razão pela qual se deu esta reunião hoje, em jeito de urgência total. Manifestamente, existem razões para ela existir.
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