sábado, 21 de agosto de 2010

Os Estados Unidos e a deflação, parte II

O perigo da economia norte-americana cair numa armadilha da liquidez não é, somente, um perigo americano mas sim global. O efeito de contágio poderá vir a contaminar, novamente, todas as economias mundiais, o que viria a ser um desastre neste momento, de retoma da actividade económica. Aliás, a preocupação do FED é bem pertinente, pois existe um perigo real do FED não poder influenciar a recuperação económica dos Estados Unidos. Num cenário macroeconómico em que uma dada economia entra numa armadilha da liquidez (originado pela deflação), a política monetária – que neste caso é da responsabilidade do FED – deixaria de eficaz, pois o próprio banco central não voltaria a poder influenciar as taxas nominais de juro. Posto isto, a missão de retoma da actividade económica americana teria de recair sobre a política orçamental. Num cenário da armadilha keynesiana (keynes foi o principal investigador deste cenário) o produto somente poderá aumentar por via de um bom velho estímulo keynesiano, isto é, orçamental, o que significaria um aumento drástico da despesa pública. Ora, atendendo ao cenário orçamental americano, uma condução de política orçamental expansionista poderia agravar, de forma bastante significativa, o défice orçamental americano, porém, para a administração Obama essa seria, muito certamente, uma mera questão secundária. Recorde-se que, muito dificilmente, o financiamento seria cortado à economia americana, razão pela qual atribui-se a expressão que compara as obrigações do tesouro americano à água, pois quando o estado americano deixar de garantir o pagamento das suas dívidas, então já nem se poderá contar com o direito ao consumo de tal bem primário. Contudo, toda esta questão em torno da deflação americana poderá nem dar origem ao cenário de armadilha da liquidez. Então, porquê tanto alarmismo em torno da deflação e os seus perigos? Basicamente, a resposta encontra-se em evidências passadas. Nos anos 30, com a chegada da Grande Depressão, a economia americana foi a primeira economia global a sentir os perigos reais das consequências de se cair numa armadilha keynesiana. Posteriormente, já na década de 90, no Japão, a economia nipónica atravessou uma recessão de mais de uma década devido a ter entrado numa espiral negativa que tivera começado com a deflação e terminado com a “liquidity trap”. De facto, um olhar para o passado poderá ser assustador. Bem Bernanke tem todas as condições para evitar a queda da economia americana numa armadilha desta magnitude, contudo, também ele se encontra divido entre a possibilidade de aprofundar a deflação e prejudicar a retoma da economia por via de um aumento elevado e sustentado das taxas de juro de referência do FED. A título pessoal, acredito que a economia americana não irá cair num cenário macroeconómico desta magnitude, tal como o Japão ou a própria América dos anos 30. É necessária uma atitude urgente perante a política monetária do FED, no sentido de antecipar um problema bastante grave, que o próprio Bernanke não admitiria que este tivesse origem em si, um estudioso da armadilha keynesiana ao longo do seu percurso académico em Princeton.

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