domingo, 15 de agosto de 2010
Negócio PT – Telefónica
Este foi, muito provavelmente, o negócio do ano no mercado accionista nacional no ano de 2010. Muito foi dito e escrito sobre os contornos do negócio em si, mais especificamente sobre a intervenção estatal nos supostos interesses privados, das empresas em questão. O expoente máximo do negócio entre a empresa de telecomunicações portuguesa e espanhola terá sido a intervenção de Bruxelas no assunto, isto depois do Estado português ter utilizado a sua golden share na Portugal Telecom. Apesar de ninguém colocar em causa a constitucionalidade da legislação europeia em torno das intervenções estatais em negócios entre agentes privados (como o recurso à golden share), o que é certo é que a utilização deste recurso salvaguardou os interesses estratégicos da PT e, por conseguinte, do Estado português e de Portugal. A participação da PT no mercado brasileiro era, para além de tudo o mais, uma presença estratégica e de mercado internacional. Há muito que a PT tinha apresentado uma estratégia de investimento além fronteiras, estratégia essa que, por si só, demonstrou uma modernidade à muito já exigida. Assim, posteriormente ao término da primeira fase do negócio (em que ambas as partes não chegaram a acordo devido ao recurso à golden share do Estado português), e já com o aviso de Bruxelas e da União Europeia, a PT rapidamente conseguiu obter uma visão de mercado, mais concretamente ao definir planos hipotéticos de continuar a marcar presença no mercado brasileiro. A escolha da PT recaiu, naturalmente, sobre a aquisição de uma quota-parte da empresa de telecomunicações OI. Efectivamente, numa segunda e última ofensiva espanhola, a Telefónica conseguiu, de facto, levar os seus interesses a melhor, comprando, portanto, a participação da PT na VIVO. De forma quase instantânea, uniram-se vozes contra o conselho de administração da PT (e dos seus accionistas), argumentando que estes almejaram, única e exclusivamente, os milhões dos contornos do negócio. Porém, na verdade, todo este timing entre a utilização da golden share e a venda (quase que já obrigatória) da participação da PT no mercado brasileiro de telecomunicações, permitiu, assim, a tomada de uma estratégia de mercado, razão pela qual a PT conseguiu, desde logo, a aquisição parcial da OI – líder de mercado na indústria das telecomunicações. Parece-me, inequivocamente, que este foi um negócio que foi bom para ambas as partes interessadas, ou seja, PT, Telefónica e Estado português. Apesar do confronto entre Portugal e Bruxelas, o recurso das acções douradas do Estado português foi verdadeiramente preponderante para um desfecho interessante para a empresa de telecomunicações nacional.
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